Desde 2008 não registramos uma alta da moeda americana tão significativa quanto nessa segunda quinzena de agosto. A equipe econômica brasileira tenta conter a escalada do dólar em meio a uma desaceleração comercial que o Brasil vem experimentando após uma ótima temporada de crescimento findada há dois anos.
Muitos defendem que a alta do dólar e a desaceleração comercial estão intimamente ligadas, mas não é bem assim. O Brasil parece ter se iludido que, após a crise americana em 2008 e as suscetíveis crises no cenário europeu, a "enxurrada" de dólares com destino ao Brasil seria atrelada a uma condição de crescimento perfeitamente controlada pelo Ministério da Fazenda. Prova que não foi bem assim que, por várias vezes, de forma até irritante e que provocaram desconfianças dos investidores, esse ministério reavaliou a taxa de crescimento mostrando um despreparo devido falta de planejamento. Na verdade, o comércio necessita de inovação e planejamento para suportar impactos cambiais que afastem os investimentos.
Com o ensaio da retomada do curso da economia americana e de alguns países europeus, os investidores retornam e levam consigo aquilo que, infelizmente, nos acomodou e nos deixou pensar que o superávit da nossa balança comercial seria suficiente de maneira a não precisarmos inovar nossa logística.
Foi importante para o aumento das reservas em dólar, mesmo não aumentando com o mesmo volume que 2012, o primeiro semestre de 2013 fechou com uma reserva de mais de US$ 371 bi. Contudo, só em julho deste ano, mais de US$ 7,5 bi foram utilizados para segurar a cotação. A maior preocupação é com a dívida comercial contraída com uma cotação e paga com outra. Só para lembrar, no final de 2012 a cotação do dólar fechou em R$ 2,04, e em agosto de 2013 já beira R$ 2,50; uma alta de mais de 22% que obriga o Banco Central a injetar mais dólares no mercado para combater a desvalorização do Real e as especulações.
A situação parece incerta. Mas, é certo que os Estados Unidos e alguns países europeus saem da crise com um setor produtivo mais forte, com uma logística voltada à inovação – diferentemente do Brasil que não investe como deveria para deixarmos de ocupar as primeiras posições do ranking da logística mais cara do mundo. O pior exemplo é o escoamento da produção de grãos no Mato Grosso. O Brasil destina 44% do peso por tonelada da soja para o frete contra 26% dos Estados Unidos – e com uma retomada na taxa de crescimento que obrigará os países emergentes como o Brasil, Rússia e Índia a se contentarem com taxas menores que 1,5%. O que reforça essa lógica é o inevitável aumento das taxas de juros americanos que levarão o restante dos nossos investidores que buscam mais segurança e liquidez.
O sacrifício é sempre mais acentuado na área da logística, pois sem a possibilidade de reduzir custos não há como competir. Pior ainda na logística de transportes que fica condicionada às decisões de outros mercados de encarar ou não a flutuação cambial. Para esse setor não há escolhas e ainda se obriga a enxugar mais suas operações para somar à decisão do seu cliente em correr o risco em um negócio que exige a cautela tanto quanto o conhecimento.
Claro que isso paira sobre todos os mercados. Afeta a economia e o bolso do brasileiro de forma muito direta. Vêm à tona fantasmas que não queremos nem lembrar. É uma realidade que precisamos enfrentar, sem pessimismo, mas com a noção de que o otimismo do governo tem seus riscos e seus propósitos.
Teríamos aproveitado bem mais esse momento se não precisássemos tanto de qualificações. Se não tivéssemos tantas falhas na educação e na formação profissional, estaríamos com o "cardápio" pronto e não elaborando depois de adquirirmos os ingredientes. O pior é que ainda não o elaboramos. E agora os ingredientes estão mais difíceis. Não estávamos preparados para aprender com a história das vacas magras. Faltou-nos a liderança e a sabedoria similar a de José do Egito pelo menos para perguntarmos: E agora José?
Fonte: Logística Descomplicada
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